Aqui revelamos para nossos seguidores o lado literário, como cronista, do nosso editor Nilson Magno Baptista
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Manezinho, no jardim da Igreja Matriz, ao lado de duas crianças filhas de moradores das imediações (Foto pertencente ao acervo de Camilo Pontes) |
Manezinho
Os melhores anos de minha vida, com certeza, foram
aqueles em que minha família residia à rua Guarda-Mor Furtado, popularmente
conhecida como Largo da Matriz. Naquele tempo, na praça onde se localiza nosso
maior templo católico, existia um belo jardim (que ficou apenas na lembrança) e
nele trabalhava o Manezinho Jardineiro.
Desde pequeno comecei a cultivar uma grande amizade
por aquele homem simples, honesto e trabalhador, que amava como poucos a sua
profissão, a qual exercia com muito amor e zelo. Cuidava com carinho sem igual
das árvores e flores que vicejavam no jardim sob sua responsabilidade e que
eram um colírio para os olhos dos que por ali passavam e ficavam encantados com
as árvores podadas artisticamente em formatos diversos, como objetos e animais.
Aquele local era um dos cartões postais da cidade.
Nas minhas
horas de lazer, enquanto os outros meninos da minha idade preferiam jogar
futebol no campinho próximo à igreja, meu prazer era sentar-me à sombra de um arbusto,
onde passava uma hora, às vezes mais, conversando com meu amigo Manezinho, que
tinha idade para ser meu pai, mas me considerava como um companheiro. Ele
adorava nossos bate papos e aproveitava para fazer perguntas sobre vários
assuntos acerca dos quais tinha dúvidas. Um dia Manezinho voltou-se para mim e disse:
¨Um dia desses ouvi algumas senhoras que iam para a missa dizerem que é o
Espírito Santo quem ilumina o Papa". Respondi que sim, o Espírito Santo ilumina
o Papa, segundo a doutrina ensinada pela Igreja Católica. Então ele ficou
pensativo por alguns minutos e, em seguida, me fez a seguinte pergunta: ¨Uai, mas
onde o Papa mora não existe luz elétrica? ¨. Fiquei sem palavras, pois, naquele
momento, não quis que meu amigo se sentisse diminuído por não saber a resposta
de uma pergunta tão simples que qualquer criança responderia com facilidade.
Nunca me esqueci daquele amigo dotado de tanta pureza, inocência e simplicidade.
Coisa difícil de se encontrar na maioria das pessoas hoje em dia.
Nilson Baptista (24/08/2010)
(Esta crônica foi publicada no site de literatura “Recanto das Letras”.
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